Por Leda Machado, coordenadora de Educação Executiva
Pela primeira vez na história das empresas, quatro gerações estão presentes atuando juntas. Não existe um consenso sobre quando cada uma começa ou termina, mas o importante é que cada uma das elas foi marcada por fatos políticos e eventos econômicos e sociais em cada época. Assim, as quatro gerações que hoje se encontram no mercado de trabalho são:
- Baby boomers, ou pós-guerra, de pessoas que nasceram entre 1946 e 64, época marcada pela euforia do fim da Segunda Guerra Mundial;
- Geração X, de nascidos entre 1965 e 76, marcada pelo movimento Hippie e o movimento estudantil de maio de 1968;
- Geração Y, indivíduos nascidos entre 1977 e 90, impactados pelas mudanças tecnológicas e o surgimento da internet;
- Geração W ou Z, dos jovens nascidos entre 1991 e 2003, marcada por mais mudanças tecnológicas, entre ela as redes e aplicativos sociais.
Os fatos que marcaram as gerações influenciaram os valores e a visão de mundo de cada uma delas. A tendência é que cada geração seja diferente daquela que a antecede, e mais, que negue os valores e a visão de mundo dessa geração anterior.
Com indivíduos de quatro gerações distintas pensando, atuando, tendo visões de mundo e valores diferentes, não é difícil o conflito surgir.
Um executivo da geração do pós-guerra foi criado em um mundo em que respeito era concordar com o chefe e não criar muito problema. Um mundo no qual as promoções levavam anos para acontecer e que o ideal era ficar muitos anos trabalhando na mesma empresa. Já um jovem executivo da geração Y tem uma relação totalmente diferente com o mundo do trabalho. Quer promoções mais rápidas, acredita que o respeito não vem da posição hierárquica nem com a necessária concordância com o chefe. Ao interagir, estes dois indivíduos precisam se entender ou não terão uma convivência produtiva.
Choque de gerações
Um caso que presenciei em uma das empresas em que fui diretora de Gestão de Pessoas: uma trainee quando enviava algo que precisava de alguma ação minha, me cobrava antes do prazo. Eu entendia a impaciência e brincava com ela. Várias vezes falei: “Olha quem você vai cobrar”. Até que um dia ela cobrou um director que se sentiu desrespeitado: “Como ela vem me cobrar? Ela não sabe quem eu sou? Não preciso ser cobrado!”
Outro exemplo foi a resposta de um jovem executivo para um diretor que, durante um evento, disse que os profissionais devem vestir a camisa das empresas. O jovem respondeu: “Eu visto a minha camisa”. O diretor ficou chocado.
Os dois exemplos demonstram que os profissionais mais maduros tinham uma visão de mundo de trabalho bem diferente da visão dos profissionais mais jovens.
Diversidade
Um ponto de tensão e conflito entre as gerações é o uso da tecnologia. A percepção do mercado é que as gerações pós-guerra e X têm dificuldades que as gerações Y e Z não têm no aprendizado e uso da tecnologia.
Os diferentes mundos em que as gerações cresceram nos trazem a questão da diversidade no ambiente de trabalho.
Diversidade não é só ter pessoas de diferentes etnias, gêneros, orientação sexual, religião. Diversidade é “valorizar as pessoas, independentemente de condição social, condição sexual, etnia, credo, etc., é uma questão ética, de respeito ao ser humano”, como afirmam Borin, Fieno e Sampaio no artigo Diversidade: Inclusão ou estratégia, publicado pela Harvard Business Review. À esta definição, eu acrescento, ainda, que diversidade é valorizar o que pensa, sente, age e, consequentemente, trabalha de maneira distinta da minha.
Os profissionais das gerações Y e Z têm a tecnologia incorporada em seu modo de vida e aprendem a usar novas tecnologias e aplicativos facilmente. A tecnologia virou uma segunda pele para estas pessoas.
Valorização das pessoas
A construção do equilíbrio entre as diferentes gerações nas empresas, passa pela valorização das pessoas. A questão agora é como valorizar as pessoas? A valorização do outro é reconhecer, aceitar as diferenças e aprender com elas. Não se sentir ameaçado pelo novo, pelo diferente. E, no conflito de gerações, é fundamental entender que cada geração tem com o que contribuir, entender que é possível que os mais maduros aprendam com os mais novos e vice-versa.
Os mais novos podem mostrar o quanto a tecnologia pode facilitar as nossas vidas, podem levar para as empresas o pensar inovador, o diferente. Por outro lado, os mais velhos podem compartilhar as experiências profissionais, ter paciência, mostrar um mundo no qual é importante o olho no olho, os relacionamento sem os aplicativos, a importância de não criar uma dependência da tecnologia.
Como já disse a antropóloga Margareth Mead, em 1935, “se desejamos de verdade enriquecer a nossa cultura, fazê-la mais rica em valores contrastantes, devemos reconhecer toda a gama do potencial humano. Devemos tecer uma tela social em que cada pessoa, com seus diversos dons possa encontrar um lugar específico”.